CACHAÇA
“SALTEM UM CÁLICE DE BRANQUINHA POTABILÍSSIMA DE JANUÁRIA, QUE ESTÁ COM UM NACO DE UMBURANA MACERANDO NO FUNDO DA GARRAFA!”
Guimarães Rosa, “Minha gente”, Sagarana
Januária é a terra da cachaça e a sua história se confunde com a própria história da cachaça e do Brasil. A bebida é a marca registrada de nossa cidade, uma das maiores às margens do Rio São Francisco, no estado de Minas Gerais. Elaborada a partir de caldo de cana fermentado e destilado, armazenado em Dornas de Umburana e Graduação alcoólica 43%vol. A certa altura da jornada hostil dos bandeirantes, depararam com uma região paradisíaca, desenhada pelos contornos graciosos, incomuns e disformes de suas montanhas, pelas verdejantes matas amparadas pela abundancia e beleza das águas do rio São Francisco e pela vastidão de terras férteis. Resolveram se fixarem ali, era Januária, e produzir até os dias atuais a melhor cachaça que o Brasil e os brasileiros puderam conhecer e apreciar.
Num contexto globalizado os pequenos produtores são personagens indispensáveis no processo de desenvolvimento territorial rural, uma vez que são eles que são os detentores dos saberes dos fazeres e dos sabores que mantem vivas as tradições e a cultura da produção artesanal. Na Atualidade, a produção da cachaça ainda ocorre de maneira artesanal e mantem arraigada a si um valor cultural e envolve exclusivamente os pequenos produtores rurais. Esses saberes, fazeres e sabores do campesinato estão presentes na produção da cachaça artesanal, e nos seus derivados possuindo um caráter socioeconômico de fundamental importância para o território. A cachaça de Januária é considerada uma das melhores do Brasil.
Em Minas Gerais, assim como em Januária a cana-de-açúcar não é o principal cultivo. A produção de cana na mesorregião Norte de Minas e no município de Januária, não está voltada as grandes usinas, mas a produção destina-se à alimentação do gado, sendo essencial nos longos períodos de estiagem. Em Januária a cana-de-açúcar é utilizada primeiramente para a produção de cachaça artesanal, rapadura e melaço de cana, sendo o resíduo da produção (bagaço) utilizado como complemento volumoso para o alimento do gado, mas também utilizada em seu estado in natura para alimentação do rebanho. O estado de Minas Gerais é o maior produtor de cachaça artesanal do Brasil, com 8.466 707 estabelecimentos produtores, sendo apenas 548 registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (CASTRO, et. al. 2010). Trata-se de um dos produtos agrícolas com maior agregação cultural mineira e sua produção remonta aos tempos da colonização, tendo passado por adaptações ao longo dos momentos históricos da agricultura brasileira. A produção da tradicional cachaça artesanal mineira gera atualmente cerca de 115.000 empregos diretos e acumula ao longo do seu ciclo produtivo uma receita anual de R$1,4 bilhão (SEBRAE, 2001).
CARRANCA
Se você já entrou alguma vez em um ambiente e se deparou com uma escultura estranha com grandes olhos, boca aberta, dentes pontiagudos e acabou tomando um susto, certamente você sabe do que estamos falando.
Talvez não, mas provavelmente já classificou uma pessoa com semblante fechado e certo mau humor como alguém “carrancudo”, não é mesmo?
As carrancas são objetos que apresentam uma mistura de detalhes da fisionomia humana com atributos animais, o que lhe dá a denominação de figura antropomórfica. Pode ser encontrada em diversos tamanhos e formas, cada região tem uma identidade própria na confecção das peças, a carranca nordestina tem muita diferença da carranca Januarense, é geralmente confeccionada em madeira entalhada. Mas pode também se produzida no barro e pintada.
As imagens eram colocadas nas proas dos barcos que faziam o transporte de mercadorias e pessoas para a região ribeirinha, o intuito era livrar a embarcação das tempestades, impedir que afundassem, atrair peixes e espantar os maus espíritos. Este último atributo vai de encontro à lenda indígena, na qual conta que existia uma entidade maligna chamada “Caboclo d’ Água”, conhecido por naufragar as embarcações e causar dezenas de mortes. Ao longo do tempo, sua utilização tornou-se um símbolo de proteção e amuleto tanto pessoal, em pingentes, chaveiros, tatuagens, quanto para decoração em ambientes internos, como esculturas.
PESCA
A pesca é uma atividade de extrema importância na vida dos seres humanos, estando marcada na história como um dos primeiros feitos de trabalho realizados pelo homem para sua sobrevivência. No rio São Francisco, esse ofício de pescar representa uma das principais atividades econômica é uma prática de prática de subsistência antiga que vem garantindo o sustento de gerações e gerações durante milênios. Com definições claras, existe além da pesca de subsistência, a pesca artesanal, praticada diretamente por pescador profissional, de forma autônoma ou em regime de economia familiar.
O TERNO DOS TEMEROSOS: REISADO
As cidades do interior mantêm amplo calendário de eventos com inspiração na sua religiosidade. Os participantes miram vários objetivos, como reverenciar os santos de sua devoção, arrecadar recursos para a irmandade, assegurar a liderança política no bairro, cultivar e manter os dotes artísticos e o lazer cultural em datas especiais. A adesão da vizinhança é expressiva, acatando o figurino e seguindo os ritos com entusiasmo.
Historicamente ligado ao ciclo natalino, o Reis dos Cacetes parece ser um Reisado encontrado em regiões do médio rio São Francisco. Os membros do Terno vestem-se com uniformes de marinheiros e se auto denominam uma “marujada de água doce”, porém a denominação de TERNO dos TEMEROSOs, parece ser exclusiva de Januária, Os primeiros registros fonográficos com o Terno de Reis dos Temerosos foram feitos pelo folclorista Joaquim Ribeiro em 1960, para a Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro. Sua trajetória surge integrada à Rua de Baixo, bairro de Januária. No início composto por doze homens adultos, atualmente pode chegar a vinte e seis componentes entre adultos e crianças. Destaque da folia, o Imperador faz uso do apito para reunir, advertir e comandar a entrada e saída dos cantos, formando par com o contramestre, que canta as respostas e comanda o Terno em sua ausência. A performance coreográfica evolui percutindo bastões de madeira uns contra os outros e marcando o ritmo na “ginga” dos dançadores. O atual imperador João Damascena lista seus antecessores até a fundação do Terno com Berto Preto, vindo depois: “Chico Doce de Côco, Albino, Adalberto, Luizinho das Mangueiras”.
Associado às etapas do ritual que cumprem nas visitas a cada casa, o repertório musical pode ser dividido em Canto de Reis17, Sambas, Retirada e Marchas de Rua. Chegam, em marcha, à casa a ser visitada cantando e levando a bandeira do Terno. Permanecem em fila dupla, alinhada perpendicularmente à porta da casa, iniciando o Canto de Reis (Nós Pastores). figura central é o Imperador, que lidera o folguedo criado pelo pescador Norberto Gonçalves dos Santos, conhecido por Berto Preto, que residia na rua de Baixo, na Colônia dos Pescadores. Ele conquistou seguidores na época em que a navegação no rio São Francisco era intensa. Atualmente, todos os integrantes são filhos ou netos de pescadores. Eles usam roupas de marinheiro e têm a Marinha como tema central, encenando lutas com espadas e bastões de madeira de 1,2 m. O grupo reúne-se na residência do Imperador às 18h do dia 2 de janeiro, soltando rojões que atraem seguidores para o giro pela cidade, com roteiro previamente acertado com os anfitriões do dia. Rezam o pai-nosso e a ave-maria para pedir proteção e graças. Os maiores têm acesso ao esquenta, que é um gole de pinga da terra. Os menores ganham guaraná ou suco. Os foliões partem para as visitas, cantando e mantendo sempre à frente a bandeira do terno. O repertório consiste de canto dos reis, sambas, retirada e marchas de rua, usando instrumentos de percussão.
O primeiro ato é um momento solene. Os integrantes alinham-se em fila dupla à porta da casa dos anfitriões, que os recebem muito bem e ficam emocionados ao empunharem a bandeira do Terno. Os dançadores fazem, depois, uma roda e batem os bastões, enquanto gingam e giram em sentido horário. Os anfitriões servem cachaça, licores ou cerveja aos adultos, e refrigerante ou suco às crianças. Numa casa, há jantar com cardápio regional: arroz de pequi, farofa, picado de arroz com carne e capim-canela, entre outras iguarias. A visita é encerrada com a retirada dos Temerosos, que retomam o cortejo em duas alas. Todos os donativos são depositados no lenço do Imperador ou na bandeira do Terno; vão financiar outra festa, no primeiro domingo após a Epifania.Há também a Folia de Reis, mas isso é outra história para outro dia.
Fonte:
REIS DOS CACETES: UMA ETNOGRAFIA DA PERFORMANCE MUSICAL DO TERNO DOS TEMEROSOS DE JANUÁRIA/MG
https://www.otempo.com.br
MACULELÊ E PUXADA DE REDE
O Maculelê é uma manifestação cultural oriunda da cidade de Santo Amaro da Purificação – Bahia, berço também da capoeira. É uma expressão teatral que conta através da dança e de cânticos, a lenda de um jovem guerreiro, que sozinho conseguiu defender sua tribo de outra tribo rival usando apenas dois pedaços de pau, tornando-se o herói da mesma. Sua origem é desconhecida, uns dizem que é africana, outros, que ela tenha vindo dos índios brasileiros, porém a versão mais aceita é que seja de matriz africana.
A Puxada de Rede, atividade pesqueira dos negros recém-libertos, que encontraram na pesca uma forma de sobreviverem, seja no comércio, seja para seu próprio sustento, em que era exigido um esforço tremendo e muitos homens para a tarefa. Acompanhada de cânticos, na maioria das vezes, em ritmo triste que representava a dificuldade de vida daqueles que tiram o seu sustento do mar. Além dos cânticos, os atabaques e as batidas sincronizadas dos pés davam o ritmo para que os homens não desanimassem e continuassem a puxar a enorme rede, dando um ar de ritual e beleza àquela atividade. Quando enfim terminavam de puxar a rede, eram entoados cânticos em agradecimento à pescaria e o peixe era partilhado entre os pescadores e começava o festejo em comemoração.
Em Januária, essas duas manifestações folclóricas/ culturais são belamente representadas pelo grupo Tribo Baobá – Maculelê e Puxada de Rede, fundado pela Professora de Matemática Maria Divina, e composta por alunos e ex-alunos da Escola Estadual Pio XII, levando a nossa cultura afrodescendente e as nossas tradições para todo o Norte de Minas Gerais. O grupo se apresenta em festas culturais, na Semana da Consciência Negra, em Festas Folclóricas e em eventos culturais em que são convidados, em uma apresentação única e inesquecível!
Januária atualmente conta com dois grupos de Maculelê, a Tribo Baobá e o Pé da Serra do Brejo do Amparo.
CAPOEIRA
Raízes africanas da capoeira
A história da capoeira começa no século XVI, na época em que o Brasil era colônia de Portugal. A mão de obra escrava africana foi muito utilizada no Brasil, principalmente nos engenhos (fazendas produtoras de açúcar) do nordeste brasileiro. Muitos destes escravos vinham da região de Angola, também colônia portuguesa. Os angolanos, na África, faziam muitas danças ao som de músicas.
Capoeira no Brasil
História ligada à escravidão
Ao chegarem ao Brasil, os africanos perceberam a necessidade de desenvolver formas de proteção contra a violência e repressão dos colonizadores brasileiros.Eram constantemente alvos de práticas violentas e castigos dos senhores de engenho. Quando fugiam das fazendas, eram perseguidos pelos capitães do mato, que tinham uma maneira de captura muito violenta.
Os senhores de engenho proibiam os escravos de praticar qualquer tipo de luta. Logo, os escravos utilizaram o ritmo e os movimentos de suas danças africanas, adaptando a um tipo de luta. Surgia assim à capoeira, uma arte marcial disfarçada de dança. Foi um instrumento importante da resistência cultural e física dos escravos brasileiros.
A prática da capoeira ocorria em terreiros próximos às senzalas (galpões que serviam de dormitório para os escravos) e tinha como funções principais à manutenção da cultura, o alívio do estresse do trabalho e a manutenção da saúde física. Muitas vezes, as lutas ocorriam em campos com pequenos arbustos, chamados na época de capoeira ou capoeirão. Do nome deste lugar surgiu o nome desta luta.
A proibição em 1930
Até o ano de 1930, a prática da capoeira ficou proibida no Brasil, pois era vista como uma prática violenta e subversiva. A polícia recebia orientações para prender os capoeiristas que praticavam esta luta. Em 1930, um importante capoeirista brasileiro, mestre Bimba, apresentou a luta para o então presidente Getúlio Vargas. O presidente gostou tanto desta arte que a transformou em esporte nacional brasileiro.
Três principais estilos da capoeira:
A capoeira possui três estilos que se diferenciam nos movimentos e no ritmo musical de acompanhamento.
1 - O estilo mais antigo, criado na época da escravidão, é a capoeira angola. As principais características deste estilo são: ritmo musical lento, golpes jogados mais baixos (próximos ao solo) e muita malícia.
2 - O estilo regional, criado por Mestre Bimba, caracteriza-se pela mistura da malícia da capoeira angola com o jogo rápido de movimentos, ao som do berimbau. Os golpes são rápidos e secos, sendo que as acrobacias não são utilizadas.
3 - Já o terceiro tipo de capoeira é o contemporâneo, que une um pouco dos dois primeiros estilos. Este último estilo de capoeira é o mais praticado na atualidade. Porém é importante ressaltar que capoeira é uma só, a Capoeira de Angola, considerada a mãe dos outros estilos e mais próxima da capoeira jogada pelos escravos africanos.
Curiosidade
Em 26 de novembro de 2014, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura), declarou a roda de capoeira como sendo um patrimônio imaterial da humanidade. De acordo com a organização, a capoeira representa a luta e resistência dos negros brasileiros contra a escravidão durante os períodos colonial e imperial de nossa história.
Para jogar capoeira precisamos de um ritmo, ditado pelo atabaque, pelo berimbau e pelo agogô, instrumentos utilizados para definir o som da capoeira. Essa música é bem característica.
O Dia do Capoeirista é comemorado em 3 de agosto;
Em Januária 06 grupos ditam o gingado da capoeira januarense:
Sinhá do Reino
Capoeira Gerais
Capoeira Viva
Ginga Brasil
Carlos Victor
Zimbabue Brasil Capoeira
Fonte: www.suapesquisa.com/educacaoesportes/historia_da_capoeira.htm
SETUR Januária