Um dos maiores patrimônios naturais e arqueológicos do Brasil está prestes a conquistar reconhecimento internacional. O Cânion do Rio Peruaçu, localizado dentro do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, no norte de Minas Gerais, será avaliado entre os dias 10 e 13 de julho de 2025, durante a 47ª Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial da UNESCO, em Paris. Se aprovado, o Peruaçu será oficialmente incluído na prestigiada Lista do Patrimônio Mundial Natural.
Com mais de 200 cavernas catalogadas e 1.000 prospectadas, paredões calcários monumentais, sítios arqueológicos milenares e uma biodiversidade única, o Peruaçu reúne paisagens cênicas e registros humanos que remontam a 12 mil anos. A área abriga ecossistemas da Mata Atlântica, do Cerrado e da Caatinga, além da maior estalactites do mundo, conhecida como “Perna da Bailarina” com 28 metros.
Uma jornada de quase 3 décadas
A candidatura brasileira é resultado de 27 anos de estudos e articulação técnica e política. O primeiro reconhecimento internacional da importância do Peruaçu ocorreu em 1998, quando a região foi incluída na Tentative List da UNESCO, através do articulações do professor José Ayrton Labegallini que foi o principal propulsor de divulgação do Peruaçu para comunidade ciêntifica e espeleológica mundial.
O projeto ganhou novo impulso a partir de 2017, sob a liderança do espeleólogo Leonardo Giunco, que teve papel essencial na articulação com órgãos como o Ministério do Meio Ambiente, o Iphan e a União Internacional de Espeleologia (UIS), além da mobilização política regional, no governo estadual, e nacional, em Brasília – junto ao governo federal e à Câmara dos Deputados.
O impulso final veio com o brilhante trabalho de Bernardo Issa, chefe do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, que não apenas elaborou todo o dossiê da candidatura em tempo recorde, como também realizou todos os encaminhamentos exigidos pelos órgãos representativos da UNESCO e da UICN quando da vistoria técnica de realizada no Canion do Peruaçu e que gerou os relatorios que darão base a votação que ocorrerá esta semana.
Um ponto importante no decorrer da candidatura foi a retomada da nomenclatura original “Cânion do Rio Peruaçu”, utilizada na inscrição da área na Tentative List da UNESCO em 1998. Essa designação substituiu formalmente o nome “Parque Nacional Cavernas do Peruaçu” na documentação da candidatura atual, alinhando-se à proposta inicial e reforçando a ênfase nos valores naturais e geológicos excepcionais do canion.
O processo teve várias fases e diversos momentos e contou, ao longo dos anos, além de Labegalini, Giunco e Issa com o trabalho e a dedicação intensiva de diversas pessoas, entre elas Cláudia Seixas, Elson da Silva Souza e Sidnei Olympio, todos três grandes contribuintes na construção do processo, e também Débora Takaki, Adailton Oliveira, Solange Mota, Paulo Ribeiro (in memoriam), Paulo Guedes, Iara Cordeiro, Jocy Brandão, Mauricio Almeida, Ana Claudia Silva, Nivia Maria Oliveira, Jair Xakriabá, Dayane Sirqueira, Eduardo Gomes, Marcelo Brito, Celia Corsino, Ronaldo Sarmento, Aurelio Vilares, Hebert Canela, dentre muitos outros.
Visita técnica e avaliação internacional
Entre os dias 19 e 22 de outubro de 2024, uma missão da IUCN – órgão técnico da UNESCO para áreas naturais – realizou uma inspeção detalhada no parque. A vistoria incluiu visitas às principais cavernas, áreas de arte rupestre, trilhas, estruturas de conservação e projetos de base comunitária.
O parecer técnico final foi entregue em abril de 2025, recomendando que a candidatura siga para deliberação do comite que irá realizar a votação no proximo domingo.
Reconhecimento global pode transformar o futuro da região
Se aprovado, o Peruaçu passará a integrar o seleto grupo de sítios brasileiros reconhecidos como Patrimônio Mundial Natural, ao lado de locais como os Lençóis Maranhenses, Fernando de Noronha, o Pantanal e o Parque Nacional do Iguaçu.
Mais que prestígio, o título pode impulsionar o turismo sustentável, atrair investimentos, promover a educação ambiental e fortalecer a proteção da área.
“O Peruaçu reúne valores universais excepcionais. O reconhecimento pela UNESCO não é apenas simbólico, mas uma ferramenta para proteger, valorizar e desenvolver a região de forma sustentável”, afirma Giunco.
Acompanhe ao vivo
A votação ocorrerá durante a 47ª Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial, de 6 a 16 de julho de 2025, na sede da UNESCO em Paris. O evento será transmitido ao vivo pelo site oficial (e pelo canal da UNESCO no YouTube). Basta acessar https://whc.unesco.org/en/sessions/47COM/ e clicar na a seção "Livestream" da página da “47ᵃ Sessão”.
A expectativa é que a candidatura do Peruaçu seja apreciada entre os dias 10 e 13 de julho, dentro do bloco dedicado a novas inscrições naturais – provavelmente no dia 13 pela manhã, lembrando que existe 5 horas de fuso horário entre o Brasil e a França.
Um momento histórico
A possível inscrição do Peruaçu como Patrimônio Mundial simboliza o reconhecimento internacional da riqueza natural e cultural do Brasil profundo – resultado de um trabalho técnico rigoroso, da dedicação das comunidades locais e da persistência do povo Norte Mineiro, que há décadas lutam por esse momento e que beneficiará muitos municipios do eixo médio do rio São Francisco.
Independentemente do resultado, a candidatura já lança luz sobre um dos tesouros mais extraordinários e ainda pouco conhecidos do país – que agora começa a ser visto pelo mundo.